Administração Obama deixa cair Google
O encerramento do site chinês da Google tem sido objecto de reacções de desagrado por parte do governo chinês e da imprensa que lhe é afecta. Por parte da Administração Obama, contudo, há um esforço visível para limitar os danos que o conflito possa trazer a uma relação bilateral já de si perturbada por vários outros contenciosos.
As ligações ao site chinês da Google passaram desde ontem a ser redireccionadas para o site de Hong Kong, para escapar à auto-censura que as autoridades chinesas lhe exigiam. Espera-se que os 400 milhões de cibernautas chineses possam desse modo continuar a aceder a conteúdos não controlados pelo regime chinês. As reacções oficiais e oficiosas foram contundentes. Vários jornais chineses citados pela agência France Press se referiram à decisão de forma jocosa. O órgão do Partido Comunista Chinês, Diário do Povo, lembrava que "Google não é deus" e sustentava que "a sua cooperação e aliança com as agências de segurança e serviços secretos americanos são bem conhecidas"
Os jornais chineses de língua inglesa não se distinguiram por especial contenção, como o China Daily, ao afirmar que "o ciber-espaço chinês vai tornar-se mais limpo e mais calmo", agora que dele desaparece o motor de busca infestado de "pornografia e conteúdos subversivos". Mais pragmático, o Global Times chamava a atenção para os prejuízos que a decisão pode trazer à Google "no prometedor mercado chinês" e lamentava o "passo em falso" da empresa.
Do lado norte-americano, pelo contrário, não há qualquer sinal de se querer prosseguir na rota de colisão anunciada a este respeito pela secretária de Estado Hillary Clinton em Janeiro. Às queixas da Google sobre os ataques de hackers, atribuídos a pressões censórias das autoridades chinesas, Clinton reagira com uma invocação do apego norte-americano à liberdade de expressão.
Entretanto, há outros contenciosos que se revelam mais urgentes e mais importantes: as queixas do executivo norte-americano sobre o valor que considera demasiado baixo do yuan, e portanto responsável pelo demasiado grande excedente comercial da China com os EUA; e as queixas do governo chinês sobre os fornecimentos de armas norte-americanas a Taiwan e sobre o acolhimento dispensado pelo presidente Obama ao Dalai Lama. Neste conjunto de interesses, a liberdade de expressão encontrou rapidamente o lugar subalterno que lhe cabe.
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